Musicas

Revelações

Longe da cidade e de toda urbanização, eu e minha família com muito esforço conseguimos respirar ar puro, e desfrutar o que têm de melhor para usufluir da natureza. À princípio, meus irmãos discordaram da idéia até perceberem o quanto o campo e a zona rural podem nos oferecer. Tranquilidade, harmonia e sintonia aos meios naturais...
Tinhamos capital suficiente para vivermos longe e mesmo assim assumirmos nossos devidos cargos na cidade, no qual nos sobrava tempo de sobra para descansar...uma vez que a presidência da empresa Dual Eventos era assumida pelo meu pai e tinha forte influência sobre toda região metropolitana.
Não tínhamos vizinhos, e tudo que nossa visão alcançava era o verde, e só o verde. Ainda eram terras virgens, há alguns metros de minha casa havia apenas uma casa colonial-rústica, onde era habitada por uma geração inteira de fazendeiros. Eu conseguia até vizualizar o feudo sob ação de seu imperador. Atualmente, moravam apenas uma senhora chamada Joana e sua filha Analícia Ventura. Logo que as vi, me perguntei o porque de morarem afastadas e sozinhas num lugar tão grande...e as respostas vieram assim que iniciei uma amizade com Analícia. Ela era meiga, religiosa e muito conservadora. Possuia costumes antigos e seu comportamento era tão puritano quanto o de sua mãe.
Ela me contara que seu pai havia falecido há alguns anos, e que sua mãe não conseguira abandonar a unica herança do tão conhecido pelo moradores  Henrique Ventura. E a jóia deixada era o terreno e a bela casa de seus avós. Analícia também comentou que a péssima socialização era um grande problema no qual resultava em depressão e falta de ânimo em todos da pequena cidade da zona rural onde agora eu morava.
Também não haviam quaisquer lote comunitário próximo, e tãopouco comércio para alimentos, roupas e farmácias. Só o que havia era uma pequena e humilde igreja, onde ficava apenas um padre conhecido por Bento que atendia à necessidades dos moradores em relação à religião e cura-psíquica dos mesmos. Analícia gostava de ir a igreja, acreditava fortemente no cristianismo e seu poder de me persuadir e levar-me junto sem sequer ouvir os ensinamentos sobre o atual Espiritismo, onde tinha minha crença.
Eu a ouvia, e sempre que podia ia ler e contar histórias pelas redondezas. Ela era uma boa amiga, só não me simpatizava mesmo com o temperamento rígido e desnecessário de sua mãe para com ela...
Joana agredia Analícia como se ela fosse criança, embora termos a mesma idade, 19 anos, ela ainda era obrigada a atender antigos custumes e culturas nas quais nenhuma garota cumpre nos tempos atuais. A castidade, o respeito à biblia e a escolha de um casamento exigidido e escolhido pela mãe...mas, ela não parecia se importar. Sorria e cantava, era tão doce que eu me sentia pecadora só em olhá-la dentro dos olhos.
Certa vez, estava sozinha lá fora, pois meus pais estavam ocupados com os afazeres de nossa nova residência e então resolvi ir olhar as estrelas no meio da penumbra e debaixo de uma àrvore centenária. Haviam tantas estrelas no céu e passei a contemplá-las com admiração até que de repente ouvi um ruído estranho vindo das terras de Analícia...andei em direção a mansão e pude ver um vulto preto envolvendo a mansão e um estrondo de risos horrendos ao redor. Corri, deitei-me e não mais tirei isso da cabeça, depois de muito esforço, adormeci.
Nas primeiras horas da manhã fiquei me perguntando se o que eu vi e ouvi na noite passada foi mesmo real ou ja estava dormindo e me entusiamei e acreditei inconsciente no que vira...
Sendo irreal ou não, contei a Analícia que, desde pequena muito religiosa, tomou providência de frequentar mais a igreja e participar de orações com Bento. Eu a acompanhava porque sabia que com a minha presença ela se sentia segura e confiante a qualquer coisa.
Em sua casa, começei a notar um certo brilho diferente no olhar de Joana que despertou de imediato minha curiosidade. Ela se arrumava mais, e não parecia tão velha desde que deixara de lado suas peças de roupas pretas para o eterno luto no qual se dedicara à seu falecido esposo. Claramente estava apaixonada, e isso me fez ainda mais curiosa quanto ao fato de não conhecer ninguém a quem a visitava e pudesse ter qualquer tipo de envolvimento com ela. Comentei com Analícia e ela rira, dizendo que sua mãe se dedicava a ela e que sua família ela era, e que jamais sua mãe se relacionaria com outro homem, acreditando no amor verdadeiro que sua mãe tinha por Henrique.
Deixei estar...
Com o passar do tempo, as coisas foram se acalmando e eu ainda abismada com a radical mudança de Joana em suas atitudes, e agora até no seu modo de falar, que era mais calmo e compreensivo com minha amiga. Estava feliz, mas sabia que a possessão de tê-la como mãe era anormal. Ela não conseguia imaginar sua mãe amando de novo e feliz com quem quer que seja o pretendente.
Passei um tempo só, andando pelo campo e resolvi ir até a igreja e ver de fato como seria confessar. Me libertar da morte de uma ente querida que há poucos anos esteve sorrindo e feliz sem que lhe dessem o aviso de que a morte era breve, e em seu caso, repentina.
Ao entrar, notei que não havia ninguém (o que era previsto) e que mais a fundo existia uma pequena capela na igreja na qual nunca tinha visitado. Ao me aproximar, ouvi vozes e logo reconheci a de Bento. Ia me virar e ir embora porque a ultima coisa que desejava era que Bento infiltrasse em minha mente fazendo-me acreditar no catolicismo e aceitar para mim, assim descrendo de minha doutrina.Mas...ao me retirar, ouvi um gemido alto, talvez um sussuro e então vi algo que sabia que mudaria todo o destino da família Ventura. Joana entregue para Bento...
Você certamente acha que eu vou correndo contar a Analícia, e se, você pensa assim está completamente errado(a) leitor(a).
Passei um tempo escrevendo e visando novos projetos literários e não tive muito tempo livre para passar com Analícia, portanto...concluí que não era um segredo meu que carregava e, um segredo desse não era para ter intromissão, pois logo seria exposto e então eu sairia ilesa de tudo.
Soube através de uma ligação de Joana que sua filha estava doente e que ultimamente tem perdido apetite e seu comportamento também está fora do normal. Pedi maiores explicações, pois não sabia que em poucos dias viria a acontecer algo de ruim com ela, justamente porque sabia que sua saúde era impecável e raramente ficava doente. Fui vê-la, e para minha surpresa ela não quis falar comigo...repetia a mesma frase que dizia que eu não lhe fui fiél. Corei ao ouvir as palavras e sua mãe me olhou duvidosa. Será mesmo que ela teria visto ou estava já sabendo do caráter de sua mãe para com o padre? Decidi deixar a enferma descansar e me despedi de Joana.
Em casa não conseguia pensar noutra coisa se não no caso probido de Joana e a reprovação de Analícia sobre o assunto...amanhã viajaria para a cidade para resolver algumas pendências e dividas ativas e só voltaria dentro de 15 dias.
Tudo se resolveu e voltei para a vida pacata e gostosa do campo. Fui rapidamente ver como Analícia estava e seu estado estava pior do que minha mãe me alertara no telefone dias antes de eu regressar.
Ela agora estava pálida, magra, e se auto-mutilando. Sua mãe nos deixou a sós no quarto e eu sentia um aperto muito grande no peito por vê-la naquele estado tão crítico.
Tentei dialogar, mas ela dizia coisas sem sentido e falava o tempo todo que eu era uma traidora e que sua mãe iria queimar no inferno junto com o padre, que o caos estava próximo e que se eu não me afastasse também sofreria as consequências...
Eu lhe disse que tudo ficará bem e que eu não iria ausentar-me até sua melhora.
Foram passando os dias, semanas e eu cada vez mais perplexa pelos acontecimentos...Analícia agora bebia a própria urina, ficava nua e não tinha mais seu juízo mental perfeito.
Convocamos alguns especialistas para nos trazer algum progresso com a doença da pobre garota, mas tudo era em vão. Analisaram a mesma e nos foram passados medicamentos que não surgiam efeito algum.
Ela sofria convulsões e a cada dia nos surpreendia com seus ataques epiléticos cada vez mais assustadores.
Eu rezava todas as noites, soube que Joana rompeu seu caso com o padre e que o religioso pecador tinha ido embora dos arredores por boatos sobre o seu feito com a Sra. Venltura.
Tinha certeza que tudo que estava acontecendo com Analícia não era psicológico, e esse meu pensamento não era bom. Admitia ser algo espiritual, uma crença comum aos cristãos denominada como Possessão.
Cheguei a tal conclusão quando fui visitá-la e foram proferidas palavras em latim, outrora tambem em hebraico. O que me assustou foi que Analícia desconhece os dois idiomas e o pouco que sei fiquei assustada, pois ela dizia coisas como se Lúcifer e Nero a possuissem sem dó, afim de mostrar que o mau existe, e ele sobresaí perante qualquer fé.
Eu tive de me conter, pois acreditava na mudança e então na melhora daquela de quem tanto amo. Sua amizade tem feito muita falta e eu não aceitaria perdê-la seja lá pra quem for e para o que for que estejamos lutando.
Meus pais, sem interesse sobre o assunto, disseram que eu devia mesmo me aproximar de Analícia e que iriam fazer uma viagem. Pedi a ele que me deixasse ficar na casa dos Ventura ao decorrer da viagem para que me aprioximasse e então ajudasse minha tão doente amiga.
Eles foram e então passei a ficar com Joana.
Nós fazíamos orações que de nada serviam então tivemos uma idéia que poderia funcionar: Um exorcismo.
Convocaremos sem a autorização do vaticano e sem liberação dos rituais católicos  sagrados um exorcista que nos ajude nesta jornada.Matias Novaes se encarregou de vir até a fazenda para poder executar seu trabalho discretamente sem que lhe fosse autorizado fazê-lo. Pois nossa suplica o tocou e ele fará por sí próprio a libertar uma alma doce e inocente.
Com todos os sintomas que tinhamos sobre Analícia, rapidamente Matias alegou mesmo se tratar de uma possessão demoníaca, e então abriu seu livro sagrado em latim para nos explicar como faríamos, aonde faríamos e em qual ocasião respectivamente faríamos.
Compreendo muito do que Matias revelou sobre a profecia, e sei que podemos salvá-la. A nossa principal prova era que ela reagia mau contra meus crucifixos propositalmente colocados para lhe provocar ira.
O tempo foi passando, e nós vimos que as coisas estavam melhorando. Ela estava num estado melhor e sua fisionomia estava de ótimo aspecto...
Então, dispensamos o trabalho de Matias e o agradecemos em nome da própria Analícia e de todos nós que a amamos.
Meus pais ainda estavam viajando, então continuei na residencia dos Ventura afim de fazer agora Analícia falar, pois desde que foram realizados os rituais ela não diz uma só palavra...ficara calada e neutra.
Fui dormir contente e agradeci a Deus pela saúde e melhora de minha amiga e adormeci rapidamente. Com a mesma rapidez, levantei com um grito vindo do corredor do andar superior e fui então até lá ver o que estava acontecendo...
Quando subi e então acendi um dos castiçais de velas, quase desmaiei com a cena que estava diante de mim: Analícia estava toda molhada, com os olhos vermelhos batendo a cabeça de Joana na mesa repetidamente com muita força. Lembrei logo de que Matias disse que quando existe um demônio sob um corpo humano o demônio reage sobre o corpo lhe dando sete vezes mais força do que lhe é de normal...
Então a vi, forte, gritando e agredindo a própria mãe. Não soube o que fazer, mas sabia que tinha que agir o mais depressa possível.
Peguei uma taça que estava em cima de uma mesa e joguei sobre Analícia, que não se feriu nenhum pouco, olhou para mim...sorriu e soltou Joana.
Me encarou nos olhos e disse:
- Independente da fé de cada um, estou aqui nesta carne que apodrecerá viva para mostrar ao mundo que o mau existe. E quem quer que saiba ou leia este artigo pense bem quando for viajar no campo...ou até mesmo na cidade...não escolhi Analícia, e tão pouco este lugar. Acontece que vocês seres humanos acham que o mau tem hora marcada para se rebelar. Cuidado, sinta-se vulnerável. Você será a próxima Pâmela Costa.